Análise de Cannes 2011

Eram 16h40 da tarde de sábado (21) quando Thierry Frémaux recebeu o repórter do G1em seu escritório no Palácio dos Festivais. Faltavam pouco mais de duas horas para que ele tivesse de anunciar os vencedores do prêmio Un Certain Regard. Do lado de fora da sala, mais jornalistas estrangeiros aguardavam para conseguir seus 15 minutos de conversa com "monsieur Frémaux", diretor e figura mais importante do Festival de Cannes ao lado de seu presidente, Gilles Jacob.

Exatos dez dias depois do início da maratona cinematográfica, que chega ao final neste domingo (22) após a exibição de mais de 40 longas-metragens inéditos, a rotina de acordar cedo, acompanhar os atores e cineastas nos compromissos de imprensa, recebê-los um a um no tapete vermelho e apresentar as sessões de praticamente todos os filmes em competição já começa a cobrar seu preço. Sem o smoking e gravata borboleta com que geralmente é visto circulando por Cannes e a barba por fazer, Frémaux aparenta cansaço.

"Eu tenho minhas próprias técnicas para me manter totalmente limpo e são. A primeira coisa é ter seis horas de sono, não, menos... cinco horas e meia", corrige. "A verdade é que me sinto sortudo e privilegiado pelo que faço. Sou alguém que sente, dentro de mim, que a gente está na vida para se devotar aos outros. E esse trabalho me permite isso, me dedicar às estrelas, aos diretores, ao público e à imprensa. E eu realmente me sinto bem em ver que Cannes é importante para essas 50 mil pessoas e que eu e minha equipe somos responsáveis por isso."

Fundador do Museu dos Irmãos Lumière, em Lyon, e frequentador assíduo do Festival de Cannes há décadas, Frémaux foi convidado para trabalhar no evento há dez anos. "O Gilles Jacob estava se tornando presidente e queria alguém para ocupar o lugar dele. Eu aceitei, mas com uma única condição: manter um pé em Lyon. Eu achava que era bom ter pelo menos uma coisa que te conecte com a sua vida normal, profissional e pessoal", diz o atual diretor, que guarda com carinho pelo menos uma recordação de sua estreia.

"Era meu primeiro tapete vermelho como diretor de Cannes. O filme era 'Moulin Rouge', com a Nicole Kidman. E lembro que ela tinha acabado de se divorciar do Tom Cruise e as pessoas ficavam dizendo: 'Ah, a estrela era o Tom Cruise, não a Nicole'. Duas horas depois, a sessão de 'Moulin Rouge' acabou e tanto o filme quanto a Nicole Kidman se transformaram nas grandes estrelas", conta.

Mas além da função de mestre de cerimônias e dos trabalhos administrativos do evento, Frémaux também vê, todo ano, os filmes que são submetidos para tentar entrar na competição. Nesta edição, foram enviadas 1.700 produções, às quais 800 ele diz ter assistido. "Acho que este foi o meu melhor ano", afirma, referindo-se à seleção. Perguntado sobre suas apostas para levar a Palma neste domingo, prêmio que será decidido pelo júri presidido pelo ator Robert De Niro, ele desconversa. "Tenho meus favoritos, mas nunca digo. O fato é que de todo filme selecionado eu gosto."


Inclusive do novo Lars von Trier. "Nós separamos o filme e o homem, mas tínhamos de fazer alguma coisa", defende Frémaux, ao falar sobre as declarações do cineasta dinamarquês sobre Hitler e o nazismo que levaram o festival a declará-lo "persona non grata". "O que fizemos foi para este ano. A punição foi para ele, mas acho que ele também se deu uma punição, e ele sabe disso. É como no futebol, ele recebeu um cartão vermelho", compara o diretor, que diz não ter levado "a sério" as declaraçoes de Von Trier.

"Não foi uma provocação, mas uma estupidez. Sei que Lars von Trier não é um antissemita ou nazista, mas era importante mandar uma mensagem firme dizendo que Cannes é o lugar para se falar de cinema, não sobre política ou sobre o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. Seja como brincadeira ou não."

Perto do fim da 64ª edição do festival, Frémaux afirma que, quando esta acabar, já estará começando a pensar na próxima. "Alguém me ligou outro dia falando 'Você vai estar em Paris em junho? Quero te mostrar um filme'. E eu disse que ainda faltava um ano, e ele 'Eu posso esperar'. Cannes é agora um trabalho de 12 meses. Você tem de prestar atenção e estar aberto a tudo", explica.

Antes de voltar a colocar a mão na massa, na sede do festival em Paris, o diretor afirma que vai tirar um fim de semana de descanso em Lyon e aproveitar para checar as dezenas de mensagens atrasadas no celular. "Hoje, é impossível deixar uma mensagem para mim. Está cheio. Mas na segunda, quando o celular parar de tocar, vou conseguir esvaziar e ninguém mais vai querer falar comigo. De verdade, na segunda cedo todo mundo vai esquecer de mim, e acho bom."

Fonte: G1

Veja fotos do festival e a cobertura completa.



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