Autoretratos (Quadros: Vendo a mim mesmo)


Todas as suas obras revelam muito de quem você é, ainda mais se estamos falando de autorretratos. Ao ver a imagem do próprio artista, até o mais desatento dos espectadores abre seus olhos para cada pixel do quadro, em um ato voyeur de espiar detalhes da pessoalidade explicitada da mente por trás e à frente da câmera. Em uma época em que poses em frente o espelho se proliferam pela Web, vale a pena a gente pensar um pouco o que significa exibir a própria cara à tapa em suas obras.
Retratar-se a si mesmo ficou comum durante o Renascimento já que o ser humano virou o centro da produção artística. No século 17, um nome que fez isso muito bem foi o mestre holandês Rembrandt. Ele não apenas se incluía em suas pinturas (algo que vários artistas fazem), mas colocava a si mesmo em situações diferentes, como vestindo roupas de séculos anteriores ou fazendo caras e bocas para estudar expressões faciais. Ele foi lembrando pelo americano Norman Rockwell quando, em 1960, colocou-o com Dürer e Van Gogh (outros dois famosos autorretratistas) quando realizou uma de suas obras mais famosas:

Norman Rockwell, "Autorretrato Triplo"

Com seu bom humor, o que ele fez aqui foi brincar com a noção de se mostrar e de ser visto. O retrato que ele faz na tela revela alguém mais jovem do que o visto no espelho, nos relembrando que toda maneira de retratar-se vai muito além do registro, mas passa por um processo criativo que nos permite fazer escolhas do que mostraremos e o que omitiremos.
No caso da fotografia, a questão é a mesma. E não digo isso apenas pela manipulação que podemos fazer com Photoshop ou o que for, mas porque temos pleno controle do que está enquadrado. Como já conversamos antes, não escolhemos o que as pessoas vão entender de nossas fotos, mas sempre sabemos o que esconder para que não nos entendam erroneamente demais quando o assunto é nós mesmos, afinal é nossa identidade que está em jogo.

Annie Leibovitz, da série "Autorretratos"

Mas sim, retratar-se é sempre um risco a mais. Seja com o bom humor do Rockwell ou a imaginação livre de Rembrandt, fazer parte da obra pode ser visto como um exercício de auto-estima. Porém, é ainda doar-se em favor da própria arte, ter no próprio corpo parte do meio em que se propaga a mensagem, algo como no teatro, dança e canto em que o artista carrega em si aquilo que vamos consumir.
Já contei AQUI no Atelliê uma das minhas experiências com esse formato, algo que não foi fácil de fazer (principalmente por ser alguém que tem problemas com exposição) e que me fez admirar ainda mais quem consegue se mostrar naturalmente. Pra finalizar por hoje, quero expor alguns dos artistas com que tenho a sorte de conviver, seja por acompanhar pela Internet ou em amizade, e que me tem ensinado como se retratar.
Inspire-se neles também para ter coragem de assumir o risco de ser o próprio modelo para suas fotos, ou ser o próprio tema delas.
Fica o desafio.

Lars Stephan
Isadora Ribeiro.
Alejandro Annicharico
Dario Torre
Lívia Fernandes
Jhonatas Silva


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